sábado, 28 de agosto de 2010

Maddie-Nunca saberemos a verdade

Anatomia de uma história mal contada


“Há ainda muito para descobrir dentro do processo”, disse-me há dias o ex-coordenador da PJ, Gonçalo Amaral, quando, juntamente com o João Vasco Almeida, o entrevistei para a “Focus” – ver edição de amanhã, dia 13. O autor do livro “Maddie – A Verdade da Mentira” (140 mil exemplares já vendidos e com traduções previstas para Espanha e Alemanha) deu-nos aquela que terá sido a primeira entrevista já com o caso fora da alçada do segredo de justiça. Assim, o ex-coordenador aceitou olhar para o computador onde tínhamos o DVD com o processo aberto e apontou-nos com o dedo o momento onde está registada a contradição fatal dos testemunhos de alguns dos principais intervenientes da noite em que foi dado o alerta do desaparecimento da menina inglesa na Praia da Luz: “Nunca qualquer órgão de Comunicação Social fez um cruzamento desses depoimentos”, desabafou-nos então Gonçalo Amaral.
Está tudo no primeiro volume dos 17, que perfazem 4713 páginas. Foi a contradição entre o depoimento inicial de Janne Tanner, gerente de marketing, e o do seu companheiro, o médico Russel O’Brian, que levantou as suspeitas de que a gerente de marketing poderia estar a mentir quando disse ter visto um alegado raptor com uma criança ao colo. Tudo isto logo no dia 4 de Maio, nas primeiras horas após o desaparecimento.
Russel O’Brian, médico e marido de Jane Tanner, trabalhou seis meses directamente com o pai de Madeleine, Gerry McCann. Foram pais sensivelmente na mesma altura, sendo que a filha mais velha de Russel tem apenas um mês a mais do que Madeleine. Ao cruzarem os testemunhos de Gerry, Jane e Russel, os investigadores da PJ perceberam que “a história estava mal contada”.
De acordo com o depoimento testemunhal de Gerry McCann, registado nas instalações da PJ às 11h15 do dia 4 de Maio de 2007, catorze horas após os factos ocorridos, verifica-se que o pai de Madeleine ausentou-se do restaurante “Tapas” cerca de meia-hora depois de ter chegado àquele local. Antes de si, já um outro membro do grupo de veraneantes, Matthew Oldfield, fora ver as janelas e confirmara que as mesmas estavam fechadas e que todas as crianças do grupo deveriam estar a dormir. Quando Matthew regressou ao seio do grupo, comunicou isso aos presentes. Nesse mesmo momento, Gerry levantou-se e foi fazer uma nova verificação. Seriam as 21h05. O pai de Madeleine entrou no apartamento munido da respectiva chave, dirigiu-se ao quarto dos filhos, verificou que os gémeos estavam bem, assim como a filha mais velha. Gerry foi então ao WC, onde, disse, manteve-se alguns instantes. Saiu e cruzou-se com um amigo britânico, Jez, que conhecera nas férias e com o qual costumava jogar ténis. O amigo andava a passear o seu bebé, pois este estava com dificuldades em dormir. Estiveram ambos numa pequena conversa até que Gerry regressou ao restaurante.
O depoimento da testemunha Jane Tanner, recolhido às 11h30 de sexta-feira, 4 de Maio, regista o facto de esta ter-se ausentado do restaurante pelas 21h10, cerca de cinco minutos depois de Gerry. Jane deslocou-se ao seu apartamento para verificar se estava tudo bem com as filhas. Nessa altura, a caminho do apartamento, garante ter-se cruzado com Gerry no momento em que este falava com o amigo do ténis. À PJ frisou que passou por ambos sabendo que Gerry já tinha estado no apartamento a ver os filhos.
A contradição surge depois quando se cruza este depoimento com o do marido, Russel O’Brian. Este último, só falou com a PJ na noite de 4 de Maio, às 21h50, quase 24 horas após os factos. Russel confirmou que Gerry e Jane saíram quase em simultâneo. No entanto, disse que a mulher deve ter voltado primeiro porque teria encontrado Gerry a falar com o amigo do ténis. Aqui nasceu uma dúvida muito importante para que se percebesse o momento-chave do desaparecimento de Madeleine McCann. As perguntas assaltaram a mente dos investigadores da PJ: Afinal, Jane Tanner viu Gerry a falar com amigo quando ela regressva do apartamento, como sugeriu o marido, ou à ida?
Afinal, se Gerry e Jane saíram quase em simultâneo, com apenas cinco minutos de intervalo entre si, então como foi possível que Gerry tivesse ido ao quarto ver os filhos, fosse depois ao WC - onde se demorou algum tempo -, voltasse ao restaurante e parasse ainda para falar com o amigo do ténis em apenas cinco minutos, ao ponto de Jane garantir que, quando passou por ambos, a caminho do seu apartamento, Gerry já estava de regresso? Será que Gerry, afinal, conversava com Jez quando ainda ia a caminho do seu apartamento? E, como explicar ainda o facto de que nem Gerry nem o amigo – interrogado mais tarde em Inglaterra – se recordam alguma vez de ter visto Jane, apesar de esta ter afirmado que quando passou por eles estavam todos no mesmo lado do passeio?
Toda esta contradição é relevante para o caso quando se constata que, de acordo com o testemunho de Jane Tanner – comprovado com um esquema por si elaborado sobre estes movimentos -, ela afirma que foi depois de ter passado por Gerry e Jez, quando caminhava em direcção ao seu apartamento, que viu, uns metros mais acima, na esquina, um indivíduo com uma criança ao colo. Nunca no regresso. Seria esse testemunho a base que sustenta toda a tese de rapto que ainda hoje permanece na mente de muita gente. E o suspeito seguia no sentido da vivenda de Robert Murat. Foi, portanto, o testemunho de Jane, apesar de contraditório, que passou a sustentar toda a tese do rapto que apontava para Robert Murat.
A primeira descrição desta amiga do casal apontava para um homem na casa dos 35 e 40 anos, magro, 1,70m de altura, cabelo muito escuro, espesso, curto mas longo até ao pescoço. Como só o vira de costas, não conseguiu dar detalhes do rosto. Mas, isso não a impediu de mais trade garantir que vira, de facto, Robert Murat.
Jane contou ainda que regressou ao restaurante após ter visto os seus filhos e garantiu à PJ que Gerry já não estava na rua a falar com o amigo, pois foi encontrá-lo no “Taps” na companhia da mulher, Kate. Passado cerca de 15 a 20 minutos, foi a vez do marido de Jane, Russel O’Brian, ir ver as filhas, na companhia de Matthew Oldfield. Este último terá depois passado pelo apartamento dos McCann, mas não viu se Madeleine estava ou não na cama, pois admite que apenas estava interessado em ouvir algum barulho vindo do seu interior. Russel, no entanto, terá ficado no seu quarto a cuidar da filha, pelo que Jane comeu rapidamente e foi ter com o marido ao quarto para o render. Russel regressou ao restaurante e foi nesse momento que Kate se levantou para ir verificar o sono do três filhos. Seriam as 22h00 ou 22h15, e estava Jane Tanner no seu apartamento quando ouviu Kate McCann e uma outra amiga do grupo, Fiona Payne, a gritarem que Madeleine tinha desaparecido. A partir dali, seria a confusão total que nos levou a uma situação que se arrastou durante meses e, finalmente, terminou por enquanto com o caso a ser arquivado sem que alguma vez tivesse aparecido um corpo ou um raptor.
Se alguém raptou ou ocultou o cadáver de Madeleine McCann, isso foi, até ao momento, o crime perfeito.

Picado daqui:http://paramimtantofaz.blogspot.com/search/label/Luz

3 comentários:

Luar disse...

tudo aquilo foi uma fantochada e se tem acontecido no RU os pais tinham sido considerados suspeitos, tal como acontece nos EUA, mas nós caímos na esparrela inicial e eles contaram com isso.
Uma, das muitas, coisa perfeitamente idiotas é aquela do pai dizer que "lhe pareceu sentir que havia alguém no apartamento" então o senhor é completamente anormal...Pois se "lhe pareceu" não vai ver? vai saltitante para o Restaurante?
O bonequinho da menina, que segundo eles ela tinha sempre com ela, não aparece em foto nenhuma ou mesmo filme.
Com babysiters no Hotel deixam as crianças sozinhas, 2 crianças mesmo acompanhadas, podem fazer asneiras e magoar-se quanto mais sozinhas...
Nós Portugueses quando fazemos férias com a família, aproveitamos para estar com os filhos, mas isso é a nossa maneira de ser.
ninguém falou com os gémeos, com 2 anos, se forem como a minha neta, teriam muito a dizer....
Tudo aquilo é um novelo muito bem tricotado em malha Inglesa que provavelmente nunca se saberá, mas que a pequenina está morta, isso eu acredito piamente.
Só que acidentes acontecem, o grave é não se ter t... para arcar com as consequência dos mesmos.

Unknown disse...

Do meu ponto de vista, não existem crimes perfeitos. Existe um pormenor nesta história que, além de outros mal esclarecidos, nunca entendi bem. Porque deram aos pais de Maddy a chave da igreja? Na minha opinião de leiga, não poderá o corpo ter sido escondido lá para depois ter sido transportado para outro lado? Seja como for, a perda maior nisto tudo é mais um desaparecimento de uma criança, sem penalizações de ninguém, nem mesmo dos próprios pais por negligencia. Onde é que vamos parar, não sei, mas pelos vistos, se a nossa justiça, continuar cega, surda e muda, penalizando quem tenta repor a verdade e deixando por punir culpados,o futuro não será promissor.
http://sitiodehistorias.blogspot.com

Luar disse...

Mantenho tudo o que já tinha escrito sobre este assunto!

 

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